VIDA DE CAÇADOR


Texto criado em 2009
Eu sou de família pobre,
Meu pai era agricultor,
Criou a família só,
Sem precisar de favor,
Pois o homem, quando nasce,
É pra ter força e valor.


Quando eu era pequeno    
Gostava de aventura
Andava pelo mato
Fazia muita travessura
Subia nos paus mais alto
Não tinha medo de altura.


Eu pensava de ser um dia  
Engenheiro ou professor
Como não pude estudar
Vejam em que se tornou
Comprei uma cartucheira
Transformei em um caçador.            


Eu sabia quando saia       
Não sabia quando voltava
Pois as surpresas da mata
Todo dia se transformava
As coisas mais perigosas
No mato me procurava.


Não tinha dia e nem hora    
Pra fazer minhas caçadas
Um dia sem esperar
Eu caí numa emboscada
Topei com a onça pintada
As duas da madrugada.


Eu gritei fasta pra lá,            
Ô, seu gatinho atrevido,
Vai procurar tua mãe
Já que você anda perdido,
Brigar com bicho pequeno,
Para mim, não faz sentido.  


Fui caçador destemido        
Não tinha medo de nada
Enfrentei bicho valente
Briguei com onça pintada
Na serra da Meruoca
Eu, matei porco queixada.


Eu recebi uma carta             
Do prefeito Zé Leitão
Pois ele era o prefeito
Da cidade Riachão
Dizendo que uma onça preta
 Era o terror no sertão.


Na carta dizia assim           
Amigo por caridade
Venha logo que meu gado
Já perdi quase a metade
De um jeito nessa onça
Que mata sem piedade.     


 Pra procurar esta onça                 
 Eu entrei bem preparado
Com a minha cartucheira
E meu facão amolado
Com meu cigarro de palha
E meu cachorro pintado    


 No mesmo dia encontrei           
A tal onça matadeira
 Estava bebendo água
 Na queda da cachoeira
 Eu disse, chegou teu dia
 Da tua hora derradeira.


A tal onça tinha                      
Três metros de comprimento
Foi o animal maior
Que vi até o momento
Matava touro Zebu
E levava de mato adentro
   
Eu fui uma caçada              
No riacho das piranhas
Era uma mata fechada
Lugar de muita façanha
É proibido caçar
No porto das ariranhas


 A vida de caçador                
É uma vida de pobreza
 Falta o pão e o café
 Falta comida na mesa
 Quando chega a velhice
 Sente abandono e tristeza


Não tinha mais espingarda    
Nem destreza, nem facão,
O meu cachorro pintado
Perdeu-se num boqueirão
A minha rede rasgou-se,
Estou dormindo no chão.       


Cacei veado mateiro              
La no sertão de Goiás
Coisas bonitas que vi
Agora ninguém vê mais
O homem sempre destrói
As coisas boas que deus faz


Fui capturar uma onça,
Na serra do caldeirão,
Eu e José de Abreu,
E o Chico do pezão
Quando viram a onça correram
Foi a maior confusão


Mas eu ficando sozinho
Não fiquei esmorecido
O meu cachorro pintado
Com olhar arrependido
Puxei o meu facão
É nós dois, gato atrevido.         


Vi a voz de um caçador
Há tempo tinha saído,
Tanta caça que ele matou
Hoje chora arrependido
Ele embrenhou-se no pelo mato
Passou um ano perdido.


Se o passado voltasse
Eu sabia dar valor
Conservar as coisas boas
Que Jesus cristo deixou
Graças a minha família
Hoje, eu sou o que sou.


Tanto bicho que matei,          
Estou velho, não tenho nada
Com o peso da idade,
A minha vista cansada,
Até a minha velha
Fala comigo zangada.     


Caçador em velhice             
Na vida nunca fez nada
Com o poso da idade,
As pernas ficam cansadas
Até a velha que eu tenho
Fala comigo zangada.


Eu nunca me esqueci           
De uma caçada urgente
Na serra das sete varas
Era eu, João Demente,
 Zé Chico e Zé Jeraquim,
 Zé Calado e Zé Vicente.


Eu nunca me esqueci              
Do meu tempo de criancinha,
O povo tinha respeito
E não tinha tanta ganancia
Não tinha letra assinada
Não existia desconfiança.   


Como o tempo está mudado            
Nós temos que mudar também
Não fazem coisas erradas,
E conservar o que tem
Se não confiar em mim,
Eu não confio em ninguém.


Meu amigo caçador                     
Vou dar um conselho a você
Não mate o resto da caça
Deixe as bicharadas viver
Se você fizer o que digo
Jesus vai te agradecer.


O meu recado eu já dei               
Não adianta teimar
Se duvida Deus castiga
No dia em que for caçar
Não mate por caridade
O bicho vai te pegar.


Aceite este recado                
De um velho caçador
Que queria ser engenheiro
Ou então um professor
Não foi uma coisa nem outra
 O destino não deixou.


Assim é a história                   
De um caçador cansado
Eu parei de matar caça
Hoje vivo sossegado
Aprendi escrevendo versos
Meu Senhor muito obrigado.