DÁDIVAS DE UM IDOSO

"SABER ENVELHECER É UM PRIVILÉGIO. 
MUITOS JÁ NASCEM IDOSOS E 
OUTROS JAMAIS ENVELHECEM."

Hildegardes W. Ruppental

Texto criado em maio de 2010.


O meu caro leitor
Quero a vossa permissão
Para escrever esta história
E leia com muita atenção
Vou falar sobre o idoso
Quero que me dê razão.


Um pai para criar a família
Só comer fora de hora
Os filhos vão crescendo
E vendo o mundo lá fora
Quando o coitado envelhece
Todo mundo vai embora.


Eu comparo a vida humana
Como a vida dos passarinhos
Quando começa voar
Procura novos caminhos
Bate as asas e vai embora
Deixando seus pais sozinhos.


O que estou escrevendo
É uma verdade pura
Os filhos foram embora
Os netos nunca procura
Fica um casal de velhos
Chorando suas amarguras.


Sou satisfeito com a vida
Os anjos digam amém
A vida de um homem pobre
Eu sei contar muito bem
O que já sofri na vida
Não digo pra ninguém.


O neto procura os avós
Quando ele está com fome
Chega na rua que eles moram
Procurando por um homem
Ele está bem velhinho
Mais não sei dizer o nome.


Muitos filhos vão embora
Dos velhos pais se esquece
Fica os velhos sozinhos sofrendo
O que não merece
Com o peso da idade
Nem os parentes conhece.


Caro leitor agradeço
Sua colaboração
Não faça da vida alheia
Um prato de refeição
Com o peso da idade
Tu vai andar de bastão.


Tem muito homem vadio
Alegre e moribundo
Não gosta de trabalhar
Perambulo pelo mundo
Quando volta para casa
É velho, sujo e carcundo.


Eu era muito pequeno
Meu avô chegou e disse
Não pegue as coisas alheia
O alhei nunca cobice
Vai guardando enquanto novo
Para comer na velhice.


Eu trabalhei de vaqueiro
Já lutei muito com gado
Montei cavalo brabo
Amarrei touro zangado
Mais o peso da idade
Deixa o velho fracassado.


Homem de 60 anos
Que mora de alugado
Não pensa na moradia
Acho um velho coitado
Nunca fez uma casinha
Para morar sossegado.


Neste mundo tem homem
Com fama de valentão
Nunca respeita ninguém
Quer ser dono da razão
Com peso da idade
Só encontra solidão.


Não vou falar só nos velhos
Falo nas velhas também
Mesmo estando bem velhinha
Trata a gente muito bem
Com peso da idade
Perde o cachimbo que tem.


Se você estiver viajando
Sempre olhe para trás
Faça o que um velho ensinar
Não o que os outros faz
Com o peso da idade
O velho não levanta mais.


Tem gente neste mundo
De qualquer jeito sofre
Um porque nunca estudou
Não escreve o nome seu
Com o peso da idade
Tem o que Deus prometeu.


Vou falar sobre os defeitos
Das pessoas quando envelhece
Faltam os dentes na boca
Os seus cabelos embranquece
O rosto fica engiado
E a força desaparece.


Escrevi este livrinho
Com muita perseverança
Pego na minha caneta
Todo cheio de esperança
Com o peso da idade
Volto ao tempo de criança.


Se um velho tiver recurso
Tempo bem apreciado
Se possui casa boa
Tendo uma fazenda de gado
Os parentes vem de longe
Todo ano é festejado.


Veja caro leitor
O que eu estou escrevendo
O velho que não tem nada
Não é mais e nem menos
Quando se levanta treme
Quando se deita é gemendo.


Todo velho aposentado
Pode viver muito bem
Sempre andar limpo
Sem precisar de ninguém
Também deve lembrar
De ajudar a quem não tem.


O homem velho demais
Sofre tanto e padece
Os filhos brigam com ele
Coisa que ele não merece
Vai banhar, veste a camisa
Porém das calças se esquece.


E assim saiu do banho
Dali saiu caminhando
Olhou para um lado e outro
O povo todo mangando
E viu que estava nu
Voltou para casa chorando.


Existe muito menino
Mal mandado e preguiçoso
Porém quando fica homem
Só fala bem vantajoso
Com o peso da idade
É rabugento e teimoso.


Tem velho neste mundo
Briga e faz desmantelo
Dança, joga e bebe pinga
Gente assim não tem apelo
Briga com qualquer pessoa
Zangado puxa os cabelos.


Não paga as coisas que deve
É velhaco e insolente
Por qualquer coisa se zanga
Se mete até a ser valente
Quando bebe uma cachaça
Costuma ser bom de gente.


Gosto de me divertir
Falo com muita franqueza
Jogo carta de baralho
Jogo sinuca na mesa
Velho que não se diverte
É besta por natureza.


Muito obrigado Senhor
Por me dar boa atitude
Para eu escrever meus versos
Mesmo com pouca saúde
Quando eu tiver bem velhinho
Só quero que Deus me ajude.


O velho que não se zela
Só anda com pés inchados
Nunca usou sapatos
O calção todo rasgado
Nunca que paga o que deve
E quando paga é zangado.


Tenho oitenta e dois anos
Tenho memória de elefante
Este é meu pouco saber
Brilha igual diamante
Velho que não conta história
É cego, surdo e arrogante.


Minha bisavó era índia
Eram duas irmãs somente
Carolina e Iracema
Tão bonita e sorridente
O seu pai era um cacique
Guerreiro muito valente.


Quando foram domadas
Começaram a estudar
Primeiro começaram a rezar
Pra poder se batizar
Uma casou com Tomás Lima
A outra com Zé de Alencar.


Matei mocó no serrado
E matei catitu na trincheira
Fiz farinha de mandioca
Pra ir vender na feira
Bebi água fria da chuva
Aparando na biqueira.


E assim foi a história
De um velho que tanto peleja
Igual um cachorrinho
Que atrás da caça rasteja
Fiquei velho e não sabia
Que gosto tinha cerveja.


Agora eu estou velho
Qualquer pessoa me oferece
Alguns foram meus alunos
Diz: este velho merece
Quem lê o livro que ele escreve
Fica velho e não esquece.


É esta a minha história
Que agora chego ao fim
Essa é uma recompensa
Que Deus deixou para mim
Perdão ao pobre poeta
Este velho Serafim.


Este livro foi escrito
Por um poeta letrado
Que fala sobre o idoso
Cada um tem o seu lado
Os pretos ficam sinzentos
Os brancos ficam pintados.


O poeta tem liberdade
Segundo a dona da natureza
Com a sua literatura
Escreve a quem tem vontade
E com uma propriedade
Que precisa o dono ter
Pelo menos eu vou dizer
Que o meu espírito não mente
Poeta também é gente
Também precisa comer.



Fim