AXIXÁ DO TOCANTINS


                                                                                                               Texto criado em agosto de 2009

Peço licença a Jesus
Pra esta história eu contar
Do dia em que eu cheguei
Neste querido Axixá
De tudo eu fiz um pouco
Neste Brasil de caboclo
Eu cheguei pra ficar.

No dia dois de julho
Do ano de sessenta e dois
Eu cheguei em Axixá
Onde moro até hoje
Lembro do dia e a hora
O que tenho que fazer agora
Eu não deixo para depois

Já tem quase meio século
Que cheguei no Axixá
Com a cara e coragem
E a força pra trabalhar
Seja o que Deus quiser
Era eu e a mulher
E quatro filhas para criar.

Para sustentar a família
Trabalhei a semana inteira
E nos dias de domingo
Eu vendia farinha na feira
E nas noites que não tinha lua
Pra clarear a rua
Era com muita fogueira.

Existia muita fartura
Do milho, arroz e feijão
A safra do babaçu
Era grande exportação
Plantei milho de pipoca
Fiz roça de mandioca
Também colhi algodão

Eu aqui já fiz de tudo
Eu nunca matei ninguém
Também nunca cobicei
As coisas que os outros tem
É pouco o meu estudo
O rico tem de tudo
O pobre de tudo é sem.

De tudo já tive sem
Sem roupa para trocar
Sem sapato e sem chapéu
Sem cama para me deitar
Sem cueca e sem calção
Só não me falta o facão
E terra pra trabalhar.

No ano de sessenta e quatro
Teve a primeira eleição
Axixá virou cidade
Foi uma revolução
Entre senhoras e senhores
Mil e setecentos eleitores
Foi toda essa votação.

Aí começou a briga
Um queria, outro queria
No ano de eleição
É a pior baixaria
Todo empregado é patrão
Quando ganha a eleição
Dana a fazer covardia

No ano de sessenta e cinco
Foi feita a igreja matriz
A gente já festejava
São Francisco de Assis
Padre Carmelo Estandislau
Viajava de animal
Pra fazer o povo feliz.

Criei a minha família
Trabalhando no roçado
Talvez elas não gostem
Deste velho fracassado
Não dei o que elas queriam
Mas não foi por covardia
Sou pobre mas sou honrado.

O pobre de tudo tem sem
Sem calça e sem camisa
Sem dinheiro pra comprar
As cem coisas que precisa
Sem saber o caminho da roça
Sem mulher das pernas grossas
E sem mulher chamada Eliza

O prefeito da cidade
Com muita disposição
Conseguiu uma pista
Pra aterrisar avião
Para nossa cidade
Com força de vontade
Trouxe iluminação.



Com quatro anos de mandato
Trabalhou bem na cidade
Fez uma prefeitura
Obra de boa qualidade
Fez muitas coisas boas
E ajudava as pessoas
Que tinha necessidade.

Com quatro anos de mandato
Na segunda eleição
Pois o seu sucessor
Teve boa votação
Porém ele se enganou
Vou falar do sucessor
Fez a maior confusão.

Vou mudar de assunto
Vou falar em coisa boa
Nunca dei valor a malandro
Nem gente que anda à toa
Sou um velho de respeito
Ser pobre não é defeito
Sei respeitar as pessoas.

Trabalhei enquanto pude
Mas nunca fui enxergado
Carreguei pedra e tijolo
Todo serviço pesado
Só tem oportunidade
Quem tem boa propriedade
Ou uma fazenda de gado.

Axixá foi governado
Por mais de dez pessoas
Quando entra na política
Fala muita coisa boa
Mais depois de ser eleito
Confiado de ser um prefeito
Vai gastar dinheiro à toa.

Se eu tiver mentindo
Me digam por caridade
Com minha força de luta
Foi aumentado a cidade
Eu fiz o novo Axixá
Jesus vai me recompensar
Porque só falo a verdade.

Não me envergonho de contar
As coisas que eu já fiz
Viajando a pé
Deixando gente feliz
Já falei pra muita gente
Pisando na areia quente
No caminho de Imperatriz.

Ia e vinha no mesmo dia
Não me achava cansado
As coisas que é bom pra gente
É relembrar o passado
Eu não gosto de mentira
Já rocei muita juquira
Sou velho não sou cansado.

O homem pra viver
Tem que ter força e coragem
Não ser um fora da lei
Nunca mancha sua imagem
Quem não tem o que fazer
Começa se aborrecer
Só porque falta coragem.

Foram grosseiros comigo
Mais eu nunca me esqueci
Os tempos foram passando
Até que envelheci
Já passei perto da morte
Mas eu tive muita sorte
Graças a Deus que não morri.

Faz quarenta e quatro anos
Que Axixá é cidade
Precisamos de um prefeito
Que tenha força de vontade
Axixá vai melhorar
Se o prefeito que entrar
Tiver mais capacidade.

Nos tempos de eleição
Os políticos fazem palestra
Pra todo lugar que vai
É recebido com festa
São mansos igual um cordeiro
Quanto vê muito dinheiro
Logo, logo desembesta.

Coisa que nunca gostei
Nunca adulei ninguém
Eu nunca fui fazendeiro
Nem fui dono de armazém
Eu sou velho direito
As pessoas de respeito
Só dá valor a quem tem.

Nunca corri com medo
Fui caboclo valente
Surrei onça maçaroca
Arranquei dente por dente
Já bebi muita cachaça
Fiz isto pra fazer graça
Mas sou um velho descente.

Ninguém viu o que eu fiz
Por ter muita gente cego
Quem quiser saber de tudo
Me pergunte que não nego
Dão valor a vagabundo
Cabra do orco do mundo
Que não tem valor de um prego.

Escrevi aqui um pouco
Das coisas que me lembrei
Eu não acuso ninguém
Só conto as coisas que sei
Falo com muito respeito
Ajudei a eleger prefeito
Foi o pior passo que dei.

Aqui tem muita gente
Que merece a nota cem
Gosto muito do respeito
Eu não maltrato ninguém
Seja rico ou seja nobre
Não é pecado ser pobre
Sei dar valor a quem tem.

Axixá foi o lugar
Que escolhi para viver
Criei minha família
Era este o meu dever
Falo com sabedoria
Eu juro que não queria
Mais um dia terei que morrer.

Quando eu completar cem anos
Eu quero ser festejado
Observe este livro
Leia com muito cuidado
Seja o que Deus quiser
Aonde eu estiver
Ficarei gratificado.

Escrevi esta história
Meu Senhor muito obrigado
Eu só escrevo o que sei
Para não sair errado
Deus me deu vida e saúde
Por esta boa atitude
Meu Senhor muito obrigado.

Não posso me maldizer
Porque Deus pode confiar
Ninguém pode confiar
Em tanta gente ruim
Quem paga o bem com o mal
Eu levo tudo no pau
Palavra de Serafim.

Escrevi este livrinho
Que fiz com muito cuidado
Por favor me perdoe
Se tem algum verso errado
A gente escreve o pensa
Ponham a mão na consciência
Nunca queiram ser mandado.

Peço desculpa aos leitores
Desculpe ao erro que tem
Também peço desculpa
Se eu maltratei alguém
Quero que Deus me ajude
Com paz, vida e saúde
Na paz de Deus amém.

As pessoas que fazem o bem
Sempre vive mais feliz
Fazer o bem e não olhar pra quem
História que o povo diz
Falo com muito respeito
Já ajudei a eleger prefeito
Foi a pior coisa fiz.

Nem todos são assim
Falo com os que merece
Porque um prefeito bom
Depressa a cidade cresce
Eu não escrevo besteira
O mundo é cheio de ladeira
Enquanto um sobe o outro desce.

Isto é um desabafo
De um velho que não mente
Não escrevo o que o povo fala
Escrevo o que ele senti
Que dá valor às pessoas
Que praticam coisa boa
Sou pobre mas sou descente.




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